segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Subúrbio londrino no coração paulistano

A Vila dos Ingleses apresenta um pouco do charme britânico ao centro de São Paulo.

Os ruídos de carros, ônibus e transeuntes, tão típicos da região central de São Paulo, parecem não penetrar entre as 28 casas da Vila Ingleses. As ruas sujas e atulhadas de gente também não chegaram até esse terreno de mais de 5400 metros quadrados que parecem delimitar uma outra dimensão bem no coração da cidade.

O conjunto de sobrados fica na altura do número 836 da Rua Mauá, próximo à Estação da Luz e à Pinacoteca do Estado. O que mais chama a atenção são as casas iguais, pintadas de amarelo claro e cobertas por telhas vermelhas. As portas e janelas são de madeira. As primeiras são envernizadas e as segundas são pintadas de preto.
A Vila foi construída entre 1915 e 1919 com recursos da Marquesa de Ytu. Sua arquitetura foi inspirada nos subúrbios londrinos, já que seus primeiros ocupantes foram engenheiros ingleses. Os funcionários da SP Railway Co. eram responsáveis pela remodelação da Estação da Luz e precisavam de um lugar próximo ao trabalho para suas famílias.

As casas não são tombadas pelo patrimônio histórico, mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional declara a Vila Inglesa como uma propriedade particular de interesse cultural.
Nove décadas se passaram. As ruas ajardinadas que separavam as casas foram substituídas por paralelepípedos e as crianças brincando por trabalhadores. Dez anos após a construção das moradias, os ingleses voltaram para sua terra natal e suas casas passaram para mãos brasileiras. Desde então, a Vila dos Ingleses já foi um endereço residencial, comercial e já até abrigou cortiços.

Foi então, durante a década de 80, que a família Moreau, descendente direta da Marquesa de Ytu, herdeira e proprietária da Vila até hoje, iniciou um processo de revitalização. As construções deterioradas foram recuperadas respeitando o estilo original e o charme do lugar. As casas inglesas passaram a abrigar, além de escritórios, restaurantes, ateliês de arte e cafés charmosos.
Hoje em dia, a maioria dos 28 sobrados é o lar de atividades que não parecem refletir o charme do lugar que as acolhe. Escritórios e até depósitos ocupariam o lugar. A Administradora Marquesa de Ytu, que cuida da Vila dos Ingleses, diz que não há depósitos entre seus sobrados, apenas show rooms das importadoras ali instaladas.

O Projeto Nova Luz desapropriou imóveis da região conhecida como Cracolândia, fazendo com que muitos estabelecimentos que serviam como depósito para o comércio legal e ilegal da região se mudassem para a área da Rua Mauá. Nem as encantadoras casas inglesas escaparam e, segundo um funcionário que não quis se identificar, ao menos três delas são usadas para armazenar produtos.
Sobrado da Vila dos Ingleses

O Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo ocupa a casa 14 da Vila dos Ingleses há vinte anos, desde o fim do processo de revitalização. “A Vila, naquele momento, tinha uma vida cultural agitada” lembra Daniel Amor, arquiteto e presidente do sindicato. O arquiteto uruguaio vive no Brasil há 35 anos e lamenta o fato da Vila ser pouco valorizada hoje em dia. “O potencial é imenso” diz ele.

Um dos principais problemas dos inquilinos das casas inglesas é a dificuldade de se fazer reformas nas construções, já que a arquitetura original deve ser mantida. Muitas delas sofrem com cupins, mas qualquer intervenção nos sobrados é muito complicada, impedindo medidas mais eficazes contra os insetos. Pelo mesmo motivo, as casas também não conseguem se adequar às leis de acessibilidade para deficientes físicos. “Uma casa tombada tem problemas de adaptação às leis novas” explica o arquiteto Amor.

O preço do aluguel mensal varia entre R$ 1000 e R$ 1500. De acordo com Felipe da Silva Melo Lima, gerente administrativo responsável pela Vila, a manutenção do espaço é feita por três funcionários permanentes e outros terceirizados por empresas prestadoras de serviço.
Abrigando ingleses ou brasileiros, com ou sem vida cultural ativa, a Vila dos Ingleses é uma surpresa agradável para quem consegue encontrá-la no meio do movimentado centro paulistano.

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